Zusammenfassung
No Brasil e sua economia política da mobilidade, a casa tornou-se uma infraestrutura experimental através da qual
cidadania e consumo se sobrepõem na performação de um Estado democrático e promotor de inclusão social e
econômica. Este artigo baseia-se em pesquisa etnográfica conduzida entre 2012 e 2015 em um condomínio fechado
na cidade de Porto Alegre/RS, parte do Programa Minha Casa Minha Vida, a maior política habitacional brasileira.
Economistas, sociólogos e antropólogos chamaram a atenção para a “financeirização” dos pobres, suas “vidas
interconectadas”, suas “economias de compartilhamento”, e seu “capital moral”, chegando mesmo a desenvolver
novas metodologias como “diários financeiros” para entender suas realidades cotidianas. Aqui, dou continuidade
a esta literatura ao mergulhar nos trabalhos e expectativas de pessoas concretas, na medida em que se deslocam de
assentamentos informais para ambientes urbanos de classe média. Nessa economia da esperança, a plasticidade de
vida coalesce com uma economia do crédito para deslanchar novos projetos subjetivos e coletivos, tornados visíveis
por meio de suas práticas financeiras. O artigo destrincha essa economia política da casa própria através de três
topografias – de mercado, da autonomia, do progresso – mostrando como a casa tornou-se o nódulo articulador de
políticas participativas e economias de consumo que reconfiguram o espaço do político na vida econômica.
In Brazil’s post-neoliberal government of upward mobility and public policies, infrastructures are the symbiosis
of experimental forms of government, political action, and practices of consumption. This article draws from
ethnographic research conducted between 2012 and 2015 in one condominium of the Minha Casa Minha Vida
policy—Brazil’s largest public housing program. Economists, sociologists and anthropologists have called attention
to the “financialization” of the poor; their “interconnected” lives; their “economies of sharing”; and their “moral
capital”, even developing new methodologies such as “financial diaries” to grasp their ordinary realities. Here, I
draw from this body of literature to delve into people’s travails and expectations as they move from peri-urban
illegal settlements to middle-class urban environments. In this economy of hope, I argue, people’s plasticity of life
coalesces with a booming credit economy to unleash new personal projects and collective becomings, rendered
visible when coping with money. The article unravels the political economy of the house by exploring three
topographies—market, autonomy, progress—and interrogating the house as the binding figure of participatory
governance and consumption-led economies, thus reconfiguring the site of the political in economic life.